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Os Crimes Sionistas de Ariel Sharon


Alguns otimistas incorrigíveis já sugeriram que somente um extremista de direita com a notoriedade do líder “Likud” Ariel Sharon terá as credenciais para mediar qualquer tipo de acordo ainda possível com os Palestinos. Não faltam exemplos como este na história. Mas Sharon?


A história de Sharon nos oferece um arquivo monocromático de corrupção moral, com documentos provando crimes de guerra no início dos anos 50. Ele nasceu em 1928 e como um jovem se integrou a Haganah, uma organização militar secreta de Israel no seu tempo de pré-Estado. Em 1953 lhe foi outorgado o comando da Unidade 101, cuja missão é freqüentemente descrita como uma retaliação contra ataques árabes em vilas judaicas. De fato, como pode ser visto através de dois terríveis ataques, um deles muito bem conhecido, a proposta da unidade 101 era instalar o terror causando discriminação e violência não somente sobre aqueles que estavam incorporados às batalhas, mas também nos jovens, velhos e inválidos.

A primeira ação militar de Sharon foi em agosto de 1953 no Campo de Refugiados de El-Bureig, ao sul de Gaza. Um arquivo israelense da Unidade 101 registra que 50 refugiados foram assasinados, outras fontes alegam ter sido 15 ou 20. O Major-General Vagn Bennike, comandante das Nações Unidas, relatou que “bombas foram lançadas” pelos homens de Sharon “através de janelas das cabanas nas quais os refugiados estavam dormindo e, assim que estes voavam, eram atacados por armas de pequeno porte e automáticas”.

Em outubro de 1953 ocorreu o ataque da Unidade 101, comandada por Sharon, a vila jordaniana de Qibya, cuja “mancha” segundo o Ministro de Relações Exteriores de Israel à época confidenciou ao seu diário “estará grudada em nós e impossível de ser lavada por muitos anos”. Ele estava errado. Posto que vários comentários ainda mais fortemente pró-israelenses no ocidente o compararam com Lidici. Qibya e o papel de Sharon são dificilmente evocados no ocidente hoje, a não ser por jornalistas como Deborah Sontag do New York Times que escreveu recentemente uma nota “chapa branca”, descrevendo-o como “corajoso”, ou o representante do Washington Post em Jerusalém, que ternamente o invocou após sua fatal excursão aos locais sagrados em Jerusalém como o “grandioso guerreiro”.

O historiador israelense Avi Shlaim descreve assim o massacre: “A ordem de Sharon era para penetrar Qibya, explodir casas e causar grandes danos aos habitantes. O sucesso obtido pro suas ordens superou todas as expectativas. A completa e macabra história do que aconteceu em Qibya foi revelada somente durante a manhã posterior ao ataque. A vila foi reduzida a ruínas: quarenta e cinco casas foram explodidas e sessenta e nove civis, dois terços mulheres e crianças, foram mortos. Sharon e seus homens afirmaram que acreditavam que todos os habitantes haviam fugido e de que não imaginavam que havia pessoas se escondendo dentro das casas”.

O observador da ONU que também estava presente teve uma conclusão diferente: “Uma história tem se repetido de tempos em tempos: as balas atravessaram as portas, os corpos se esparramaram sobre a soleira, indicando que os habitantes foram forçados pelo fogo pesado a ficar dentro de suas casas até que fossem explodidas sobre eles.” O massacre de Qibya foi descrito contemporaneamente em uma carta ao presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, datada de 16 de outubro de 1953 (S/3113) enviada pelo Enviado Especial e Ministro Plenipotenciário da Jordânia aos Estados Unidos. Em 14 de outubro de 1952, às 09:30h da noite, ele escreveu, as tropas israelenses alcançaram um contingente de batalha e chegaram à vila de Qibya no Reinado de Hashemite da Jordânia (naquele tempo West Bank estava anexada à Jordânia).


De acordo com o diplomata, as forças israelenses entraram na vila e mataram sistematicamente dos os ocupantes das casas, usando armas automáticas, granadas e bombas. Em 14 de outubro, os corpos de 42 civis árabes foram descobertos, vários outros corpos ainda estavam sob os escombros. Quarenta casas, a escola da vila e um reservatório foram destruídos. Quantidades de explosivos não utilizados, condizendo com as conhecidas condições de armamento de Israel em Hebrew, foram encontradas na vila. Por volta das 03:00h da manhã, para encobertar suas ações, tropas israelenses de suporte começaram a interceptar as vilas de Budrus e Shuqba.


E o que dizer sobre a conduta de Sharon quando esteve na direção do Comando do Sul das Forças de Defesa de Israel no inicio dos anos de 1970? A “passagem” de Gaza foi vivamente descrita por Phil Reeves em um artigo no The London Independent em 21 de janeiro deste ano.


“Trinta anos se passaram desde que Ariel Sharon, o favorito a ganhar as eleições em Israel, foi o líder do Comando do Sul das Forças de Defesa de Israel, encarregado da tarefa de “pacificar” a recalcitrante Faixa de Gaza após a guerra de 1967. Mas o velho homem ainda recorda bem. Especialmente o velho homem na Rua Wreckage. Até o final dos anos de 1970, a rua Wreckage ou Had´d ainda não era uma rua, apenas uma passagem sem nome atravessando o Campo de Praia da Cidade de Gaza, uma pequena cidade polvilhada com poucas e pequenas casas construídas pela ONU para os refugiados da guerra de 1948 que naquele tempo, como agora, aguardavam que a comunidade internacional resolvesse seu futuro. A rua este nome mais tarde, após uma nada usual e prolongada visita dos soldados do Sr. Sharon. Suas ordens eram para tratorar centenas de casas para pavimentar uma ampla e portentosa rua. Isto permitiria às tropas israelenses e seus veículos altamente armados a se mover facilmente por sobre o campo, para exercer controle e caçar homens do Exercito de Libertação da Palestina”.


“Eles vieram pela noite e começaram marcando as casas que queriam demolir com tinta vermelha, disse Ibrahim Ghanim, 70, um trabalhador aposentado: “Pela manhã eles voltaram e ordenaram que todos saíssem. Eu me lembro de todos dos soldados gritando para as pessoas, Yalla, yalla, yalla, yalla! Eles atiravam os pertences das pessoas na rua. Então Sharon trouxe tratores e começaram a pavimentar a rua. Eles fizeram todo o trabalho praticamente em um dia. E os soldados batiam nas pessoas, você pode imaginar? Soldados com armas batendo em pequenas crianças!” Assim que o trabalho do exercito israelense terminou, centenas de casas estavam destruídas, não somente na Rua Wreckage, mas por todo o campo, com cancelas de “segurança” instaladas por Sharon nas suas vias de segurança. Muitos refugiados se abrigaram em escolas ou se apertaram nas já lotadas casas de parentes. Outras famílias, geralmente aquelas com um ativista político palestino, foram colocadas em caminhões e levadas ao exílio em uma cidade no coração do Deserto de Sinai, controlada por Israel”.


Assim como Reeves relatou, a devastação do Campo da Praia está longe de ser uma exceção. “Em agosto de 1971 sozinhas, tropas sob o comando do Sr. Sharon destruíram cerca de 2000 casas na Faixa de Gaza desalojando 16.000 pessoas pela segunda vez em suas vidas. Centenas de jovens palestinos foram presos e deportados para a Jordânia e o Líbano. Seiscentos parentes de guerrilheiros suspeitos foram exilados no Sinai. Na segunda metade de 1971, 104 guerrilheiros foram assassinados. “A polícia naquele tempo não prendia os suspeitos, mas os assassinava”, disse Raji Sourani, diretor do Centro Palestino de Direitos Humanos na Cidade de Gaza”.


A complacência de Israel os levou à sua primeira derrota com os egípcios em 1973, em parte nutrida pela suposta fortaleza impenetrável da “Linha Bar Lev” construída por Sharon na margem leste do canal de Suez. Os egípcios ultrapassaram a linha sem muita dificuldade.

Em 1981, Sharon, então Ministro da Defesa, pagou uma visita ao bom amigo de Israel, Presidente Mobutu do Zaire. Almoçando no yate de Mobutu os Israelenses foram questionados por seus hospedes se poderiam utilizar seus escritórios para solicitar ao Congresso dos EUA mais apoio. O que os israelenses conseguiram realizar. Como moeda de troca Mobutu restabeleceu relações diplomáticas com Israel. Este não era o único contato de Sharon na África. Entre amigos ele relacionou velhas memórias de viagens a Angola, observando e aconselhando as forças sul africanas que então estavam lutando em apoio ao assassino acobertado pela CIA Jonas Savimbi.

Como ministro da defesa do segundo governo de Menachem Begin, Sharon foi o comandante que liderou plenamente o assalto ao Libando de 1982, com a ordem expressa de destruir a OLP, levando tantos palestinos quanto fosse possível para a Jordânia e fazendo do Líbano um estado “cliente” de Israel. Este foi um plano de guerra que custou um sofrimento incontável, cerca de 20.000 vidas Palestinas e Libanesas, e também a morte de aproximadamente 1000 soldados israelenses. Os israelenses bombardearam populações civis por vontade. Sharon também comandou os terríveis massacres dos campos de refugiados de Sabra e Shatilla. O governo do Líbano contou 762 corpos descobertos e mais tarde 1200 enterrados privadamente pelos parentes. De todo modo, o Oriente Médio poderia ter experimentado coisas piores, evitado graças a Menachem Begin. Justamente quando a guerra de 1982 estava pegando seu caminho, Sharon abordou Begin, então Primeiro Ministro, e sugeriu que Begin cedesse o controle das armas nucleares de Israel para ele. Begin teve suficiente bom senso para não aceitar.

O massacre dos dois campos contíguos de Sabra e Shatilla ocorreu das 6:00 da tarde de 16 de setembro de 1982 até às 08:00 da manhã de 18 de setembro de 1982, em uma área sob o controle das Forças de Defesa de Israel. Os assassinos eram membros da Milícia Phalange, a força Libanesa que foi armada e intimamente aliada a Israel desde o primeiro ataque da guerra civil Libanesa em 1975. As vitimas do ataque de 62 horas, incluiram bebês, crianças, mulheres (inclusive grávidas) e idosos, alguns dos quais foram mutilados e decapitados antes ou depois de serem mortos.

Uma comissão oficial israelense de inquérito – liderada por Yitzhak Kahan, presidente da Suprema Corte de Israel – investigou o massacre e em fevereiro de 1983 publicou suas conclusões (sem o Apêndice B, que permanece secreto até hoje).

Mesmo sob apelos desesperados de cobertura das evidencias do que realmente tinha sido feito pelos militares israelenses, a Comissão Kahan foi compelida da julgar que Ariel Sharon, entre outros israelenses, teve responsabilidade pelo massacre. O relatório da comissão afirma: “Esta é nossa visão de que a responsabilidade deve ser imputada ao Ministro da Defesa por ter permitido (“de forma plenamente consciente” teria sido uma escolha melhor de palavras) o perigo dos atos de vingança e derramamento de sangue pelos Phalangistas contra a população dos campos de refugiados, e por ter falhado (“avidamente levado em consideração”) ao não levar isso em consideração quando decidiu permitir a entrada dos Phalangistas nos campos. Somando-se a isso, responsabilidade deve ser imputada ao Ministro da Defesa por não ordenar medidas apropriadas de prevenção para redução do pergio do massacre côo uma condição para os Phalangistas entrarem nos campos. Esses erros constituem o não cumprimento dos deveres dos quais o Ministro da Defesa estava incumbido”. (Para aqueles que querem refrescar sua memória sobre a Operação de Paz da Galileia, dos massacres e da cobertura Kahan nós recomendamos o livro de Noam Chomsky “The Fateful Triangle” – “O Triangulo Fatal”).

Sharon relutou em aceitar. Finalmente, em 14 de fevereiro de 1983, ele foi liberado de suas obrigações como ministro da defesa, permanecendo assim no gabinete como ministro sem pasta.

A carreira de Sharon estava em eclipse, mas ele continuou usando suas credenciais como um ultra-Likud. Sharon sempre foi contra qualquer acordo de paz, a menos em termos inteiramente impossíveis de aceitação pelos Palestinos. Assim como Nehemia Strasler assinalou em Ha’aretz em 18 de janeiro deste ano, em 1979, como membro do gabinete de Begin, ele votou contra o tratado de paz com o Egito. Em 1985 ele votou contra a retirada das tropas de Israel da, assim chamada, zona de segurança no Sul do Líbano. Em 1991 ele se opôs à participação de Israel na Conferencia de Paz de Madri. Em 1993 ele votou “não” em Knesset no Acordo de Oslo. No ano seguinte ele se absteve no Knesset em uma votação sobre o tratado de paz com a Jordânia. Ele votou contra o acordo de Hebron em 1997 e se opôs ao meio pelo qual a retirada do sul do Líbano estava sendo conduzida.

Como Ministro da Agricultura de Begin no final dos anos de 1970 ele estabeleceu muitos dos acordos de Cisjordânia que são hoje a maior obstrução para qualquer negociação de paz. Sua posição atual? Nem um metro quadrado de terra de distância dos Palestinos de Cisjordânia. Ele irá concordar com um Estado Palestino as áreas existentes sob controle total ou parcial dos Palestinos, chegando a não mais que 42% de Cisjordânia. Israel irá manter o controle das supervias sobre Cisjordânia e as fontes de água. Todos os assentamentos permanecerão no local com acesso das Forças de Defesa de Israel. Jerusalém irá permanecer sob o governo de Israel e ele planeja continuar construindo em volta da cidade. As colinas de Golan irão permanecer sob o controle de Israel.


Pode ser argumentado fortemente que Sharon representa o fim, a longo prazo, da política de todos os governos Israelenses, sem nenhum obscurantismo ou verborragia. Por exemplo: Bem-Gurion aprovou as missões de terror da Unidade 101. Todo governo israelense condenou os assentamentos e construções em volta de Jerusalém. Foi Ehud Barak do Labor que acenou positivamente à empreitada militar de Sharon na sua provocativa investida que desencadeou a segunda Intifada e Barak que fez vista grossa à legal repressão militar dos meses recentes. Mas isto não diminui a sinistra sombra de Sharon por sobre metade do século passado. Tal sombra é melhor evocada pelos Palestinos e Libaneses chorando seus mortos, os alejados, os desabrigados ou pela jovem israelense, Ilil Komey, 16, que confrontou Sharon recentemente quando este visitou sua escola agrícola em Beersheva: “Eu acredito que você enviou meu pai ao Líbano”, Ilil disse, “Ariel Sharon, eu o acuso de me fazer sofrer por 16 anos. Eu o acuso de uma série de coisas que fizeram um monte de gente sofrer neste país. Eu não penso que você possa agora ser eleito como Primeiro Ministro.”

Ilil estava errada. Ele está lá. E o banho de sangue vai começar.


"Israel como um Estado judeu constitui um perigo não apenas a si mesma e a seus habitantes, mas a todos os judeus, e a todos os povos e Estados do Oriente Médio e além."

- Prof. Israel Shahak, judeu e fundador da Liga Israelense de Direitos Humanos


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